Uma breve história do universo (DC no cinema)

Afff, eu fico até triste com o que fizeram com os super-heróis da DC. Imagina uma empresa que tem a capa e o traje na mão, e mesmo assim, conseguiu fazer uma das bagunças mais inacreditáveis da história da cultura pop. Sim, estamos falando da casa de personagens como Superman, Batman, Mulher-Maravilha e Aquaman. Mas vamos por parte.

Com a chegada do problemático The Flash nos cinemas neste fim de semana, vamos lembrar um pouco da história dessa editora, que há muito, mas muito tempo mesmo, já poderia ser absoluta, quando o assunto é cinema, TV e quadrinhos, mas a gente bem sabe que não é assim.

Diferente da Marvel Comics, que passou por uma pindaíba gigantesca nos anos 90, tendo que licenciar seu time de heróis a preço de banana. Vide as negociações de Homem-Aranha com a Columbia, Hulk com a Universal, Quarteto Fantástico e Demolidor para a Fox e Blade com a Warner (!), sim isso aconteceu! A DC é uma divisão da Time Warner, dona de um conglomerado de comunicação multimídia que possibilita controle total sobre seus heróis.

Por isso, que temos o início da era dos super-heróis lá na metade do século passado, com o seriado Batman e Robin, estrelado por Adam West e Burt Ward, em 1966. E sim, a primeira superprodução cinematográfica de um super-herói foi também por essas épocas, 1978, para falar a verdade, com Superman – O Filme, filme definitivo do alienígena de Kripton que se tornou um deus na Terra. E quando a gente fala em superprodução, não estamos brincando. No papel título tínhamos o galã Christopher Reeve, ao lado dos oscarizados Marlon Brando e Gene Hackman, com trilha de John Williams e direção de Richard Donner. 

Mas a DC nunca aprendeu e parece que segue longe. Assim como Superman, Batman, outro dos mais populares super-heróis da cultura, também teve uma adaptação precoce e de grande qualidade para o cinema, em 1989, pelas mãos do promissor Tim Burton, na época, com nomes como Michael Keaton, Jack Nicholson e Kim Bassinger no elenco.

Apesar dos dois primeiros filmes de Superman e Batman no cinema serem muito bons. Muito bons mesmo! As demais continuações são porcarias tão esdrúxulas que chegam a ser patéticas. E mesmo com infinitos reboots e filmes paralelos, parece que os projetos não engrenam, não conseguem sair do chão e acabam virando piadas muito difíceis de se digerir. 

A maior prova de que a DC é perita em fazer cagada com suas relíquias foi a escalação do melhor diretor de créditos de abertura do cinema Zack Snyder, para conduzir a construção do seu universo compartilhado, imitando de forma incompetente a Marvel. E o desastre foi descontinuado, depois de problemas nos bastidores, pouca resposta do público e muita frustração.

Mas vamos lá, relembrar um pouco que vale a pena. Em 2006, vendo que X-Men e Homem-Aranha estavam bombando pela concorrência, a DC importou o diretor Brian Singer, dos próprios X-Men, para botar em voo o seu super mais famoso, aliás, o super mais famoso de todos: Superman. Para isso, eles escalaram um jovem desconhecido chamado Brandon Ruth, fisicamente muito parecido com Reeve dos filmes do século passado, e um grande elenco estrelar, com Kevin Spacey e Kate Bosworth. E ainda, se deram a liberdade de ignorar os eventos de Superman 3 e 4, que foi uma decisão boa. A recepção do filme foi mista e o filme poderia até engatar alguma deixa para continuações ou expansão do universo. Mas quis se bastar em si mesmo. Logo, o projeto não foi continuado.

Em paralelo, no pavilhão ao lado, outro jovem promissor cineasta recontava a origem de Batman, com o filme Begins. Esse cineasta se tornaria o famigerado Christopher Nolan. Com uma recepção muito mais positiva que Superman, destacada pelo tom realista adotado pelo roteiro e Desing de produção, o filme recebeu sinal verde para mais duas sequências, que chegaram a bater a casa de U$ 1bi de bilheteria cada. Os filmes ficaram conhecidos como a Trilogia do Cavaleiro das Trevas, mesmo que o primeiro filme jamais cite esse termos e que o nome, seja uma referência a novela de Frank Miller sobre um Batman aposentado que volta a ativa para passar o seu bastão.

Na TV, nos anos 90, a DC bombava nos canais da Warner, com diversas séries que eram sucesso. Loius e Clark, The Flash, Batman Animated Series, Liga da Justiça – Animada, Supergirl e o fenômeno Smallville, uma releitura sobre a adolescência de Clark Kent / Superman, que tanto nos quadrinhos quanto no cinema, imitava a saga de Jesus Cristo e pulava da infância já para a fase adulta, em sua forma mais milagrosa.

Foi aí que o olho cresceu, e vendo a junção entre Homem de Ferro, Thor, Capitão América e Hulk, que tinham recebido filmes solos, co-protagonizarem o filme-evento Os Vingadores, que a DC disse a si mesma. É hora de adaptar a Liga da Justiça para o cinema.

Aí então entrou Zack Syder na conta, que entre outros trabalhos, tinha no currículo as adaptações de 300, de Frank Miller, e Watchmen, de Alan Moore. Sua ideia, ao contrário da Marvel, era iniciar o universo expandido da DC pelo seu maior herói, o Superman. Assim, teve sinal verde para o errático Homem de Aço. 

O filme, que volta a contar a origem do super mais popular e que já tinha pelo menos um filmes de origem definitivo e uma série inteira falando sobre seu processo de amadurecimento, abre mão de tudo, e mostra um menino super protegido por um pai controlador e atrapalhado. Inclusive, que para ensinar uma lição ao filho poderoso, abre mão da sua vida (mas calma que a coisa fica mais patética para frente). O filme não usa só fessa, mas abusa de outras liberdades artísticas, como o Superman sendo apresentado a sociedade como uma ameaça, e tendo que se entregar para ficar preso e algemado. Sério, eu queria estar na sala de leitura do roteiro, quando saiu essa ideia.

Homem de Aço, apesar de todos os problemas, garantiu um caixa para ganhar continuações que foram Batman vs. Superman: A Origem da Justiça e consequentemente Liga da Justiça. Em paralelo, o DCEU já organizava filmes solos de Mulher-Maravilha, Aquaman e de uma trupe de vilões chamado Esquadrão Suicida.

No papel parece que tudo ia bem, certo? Mas a execução foi das piores. Batman vs. Superman, tem um roteiro beirando a sátira involuntária, com uma das lutas mais desproporcionais de todos os tempos, terminando com uma incrível coincidência de nomes de mães. Esquadrão Suicida é só horrível, sim ele serviu pra pautar todas as festas a fantasia com alguma Arlequina ou variação dela, mas foi só. Mulher-Maravilha, de longe é a melhor coisa que saiu até então, porém, sua continuação é outro tiro no pé. E Aquaman, o que dizer, nunca consegui ver até o final.

Antes do lançamento de Liga da Justiça, vários acontecimentos ajudaram para o fracasso do filme. Uma tragédia pessoal acabou tirando Snyder da direção e controle criativo, além de problemas nos bastidores, principalmente com as receitas e dos filmes que seguiam a sua linha lógica. A DC novamente importou um nome da Marvel para dar andamento nos seus projetos, dessa vez Joss Whedon, que havia dirigido Os Vingadores, para finalizar a Liga e lançar no cinema com um filme de duas horas. Tanto Homem de Aço quanto Bat vs. Super foram considerados longos demais. 

Mas isso foi o início da catástrofe. Whedon reescreveu o roteiro de Snyder. Refilmou mais de 50% do filme, que teoricamente já estava pronto, só esperando a pós produção. Teve que reescalonar elenco, alguns com outros compromissos já em andamento, como foi o caso de Henry Cavill e o mustachegate. A tragédia era inevitável e Liga da Justiça saiu nos cinemas com cara de trabalho em grupo feito a distância, onde os membros brigaram e largaram suas atividades pela metade. As bilheterias responderam mal, e, além de ficar com números abaixo de todos os filmes da DC feitos até então, com exceção de Esquadrão, ele amargou prejuízo para a Warner, que estourou o orçamento de produção com as refilmagens e a nova pós, e também com o marketing gigantesco, tentando criar interesse ao filme.

Nada poderia ser pior né, afinal, já estava tudo muito ruim. Mas parece que recordes foram feitos para serem superados. Os últimos anos da DC são puro conflito. Lembra da Arlequina, a atriz que interpretou a vilã se tornou produtora e lançou uma continuação do fracasso de Esquadrão para explorar a sua personagem, chamada Aves de Rapina(!), Shazam! foi adaptado com uma pegada de DeadPool para crianças, brincando com as autorreferências, sobrando com uma crítica do tipo “estão Marvelizando a DC”. Se fosse até aí, Esquadrão Suicida recebeu um terceiro filme, que pode ser uma continuação direta do primeiro, ou até um reboot, depende da sua vontade, pelas mãos de James Gunn, outro medalhão da Marvel que ficou famoso por Os Guardiões da Galáxia.

Aí, chegou The Rock e lançou Adão Negro, que é tipo um reboot de Shazam, que saiu com uma continuação. Lembrando que no meio da pandemia, o Snyder voltou a fita, lançando sua versão de 4h da Liga da Justiça, que foi reeditada e re-finalizada mais uma vez, para ser âncora do serviço de streaming do conglomerado, o HBOmax. Onde também estão muitos lançamentos direto para homevídeo, como as séries Arqueiro, Gotham, Pacificador, Lendas do Amanhã, Preacher, The Flash, Stargirl.

Com um histórico desses, parece realmente impossível que o novo filme do Flash consiga algo de bom, mas ele vem agradando muitos fãs e entusiastas. Talvez até crie coragem para assistir algum dia.

O que cada vez vem se tornando uma realidade, é que em breve, vão ter apelar para Crise nas Infinitas Terras. Para quem nunca ouviu falar, esse é um quadrinho famoso na DC, que na metade dos anos 90, tentou arrumar a casa, uma vez que haviam tantos universos paralelos e versões de seus heróis, que nem a editora conseguia mais dar lógica aos acontecimentos. Porém, a tentativa se mostrou um tiro no pé, esculhambando de vez diversas histórias e verões dos heróis.

Uma das mais famosas a ser atingida por esse remendão é Flash of Two Words, que parece que pode ser a inspiração para a história que chega aos cinemas. Mas como disse, só vendo para saber.

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