Nike’s Footballverse

Cá estamos às vésperas de começar mais uma Copa do Mundo, um dos maiores (senão o maior) eventos midiáticos e de fortunas em merchandising, e, entre um comercial e outro, a gente também tem futebol, que é aquele jogo lá que os caras jogam. E uma das ações mais queridinhas é o famoso comercial da Nike, que sempre parece mais um curta metragem de altíssimo investimento, do que um comercial. Neste ano a ação se chama Footballverse. Já vamos falar sobre ele, antes vamos só lembrar um pouco dessa ação. Mesmo com comerciais incríveis em 94 e em 98 (o famosíssimo vídeo da Seleção Brasileira no aeroporto), vamos começar desde 2002, quando a ação realmente foi montada para utilizar a internet junto com as mídias off-line.

Então, desde 2002, a Nike adotou como estratégia maior para a Copa a superprodução de peças incríveis, estreladas pelos seus jogadores mais valiosos. Lembrando que quem patrocina a copa desde os anos 70 é a Adidas, que não larga o osso e assina as peças desde a Bola, até os uniformes dos voluntários que trabalham no evento. Em 2002, a primeira mega campanha da Nike foi chamada de Secret Tournament, que se passava numa gaiola, tipo uma prisão e era disputada por diversos jogadores. As peças foram dirigidas pelo ex-Monty Python Terry Gilliam, e tinham no “elenco” Thierry Hnery, Figo, Denílson, Roberto Carlos, Canavaro, Totti, Thuram, Ronaldinho, Nakata, Ronaldo e Crespo.

Primeiro super comercial da Nike em 2002

No ano de 2006, foi a vez do inglês Guy Ritche (Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes, Snatch, Aladdin) ser o grande nome atrás das câmeras, para fazer um curta todo em POV (point of view) de um atleta desde a base até uma grande decisão. A campanha foi chamada de Nike: Take ir to the Next Level (em tradução livre, Nike te leva ao próximo nível).

Nike takes you to the next level, de Guy Ritche

Em 2010, a empresa subiu muito o nível e criou para a Copa da África do Sul a campanha Write the Future, dirigida pelo vencedor do Oscar Alejandro Gonález Iñarritu (Amores Brutos, O Regresso, Birdman), estrelado novamente por diversos atletas, não só os grandões do futebol, como Rooney, Canavaro, Drogba, Ribéry, Iniesta, Piqué, Fábregas, Ronaldinho, mas também tinha caras como o ator Gael Garcia Bernal estrelando um filme fictício sobre Cristiano Ronaldo, Homer Simpson, o falecido astro da NBA Kobe Bryant, Roger Federer, Bobby Solo, enfim, o negócio é gigante e ainda acho que foi o melhor comercial já feito.

Write the Future, dirigido por A. G. Iñarritu

2014, ano do Brasil sediar a Copa, foi a vez de colocar rodar o campanha Risk Everything, que era formado de um curta que requentou a fórmula de 2010, com diversos nomes, fora do futebol como Anderson Silva, Jon Jones, Irina Shayk e até o incrível Hulk, sim, o super-herói da Marvel que faz uma ponta por conta do apelido do goleiro da seleção Norte Americana da época, Tim Howard. A peça começava com um grupo de jovens meninos jogando e imaginando seus ídolos, que aos poucos iam mudando até protagonizar um jogo em uma arena gigantes e completamente lotada.

Risk Everything, da Copa de 2014

Na última edição da competição, em 2018, disputada na Rússia, Cristiano Ronaldo estrela a peça num brincadeira metalinguística em que troca de corpo com um jovem. Esse, herdando o talento do famoso atleta, começa uma escalada no esporte até que chega ao estrelato e irá disputar exatamente contra ele, onde o encontro dos dois faz com que a troca de corpo volta ao estado normal. A campanha se chamou SparkBrilliance, nome do modelo de chuteira que é o link entre a marca e a mega estrela de Cristiano Ronaldo. O vídeo âncora da campanha foi dirigido pelo duo francês Fleur & Manu, que assina vários vídeos musicais e curtas estilizados.

Assim chegamos ao corrente ano, com a recém lançada campanha Footballverse, pegando uma óbvia carona na moda dos multiversos, que teve entre ano passado e neste ano os lançamentos de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura e o espetacular Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo, que não tem nada de super-herói, mas tem um pouco. Nos serviços de streaming também tivemos as séries What If…, Loki e, claro, a melhor de todas, Rick e Morty, que fortalecem esse conceito do Multiverso.

O filme inicia em Genebra, na Suiça, onde está o famoso CERN, laboratório de pesquisa ultra moderno que possui o maior acelerador de partículas do mundo (se quiser saber mais, assiste ou leia Anjos e Demônios que tá tudo explicadinho). Lá dois cientistas discutem se o francês Mbappé venceria uma disputa mano a mano com Ronaldinho, em sua versão de 2006 (que acabou não indo para a Copa, por isso ele usa uma camisa do Barcelona no comercial). Dessa discussão, saí a ideia de trazer os ídolos do passado, para enfrentarem os do presente, e assim eis que surge a dupla na primeira participação. O comercial obviamente usa bastante computação gráfica para remontar o perfil dos atletas das antigas, mas eu não achei o resultado grande coisa, parecem aquelas montagens deepfakes que se recebe todo dia no WhatsApp.

Em seguida, algum outro cientista sugere chamar Ronaldo, o Fenômeno, para se juntar a brincadeira. Sua primeira versão vem direto do Japão, em 2002, coincidentemente ano em que a Nike começou a investir nessas mega campanhas. Mas daí alguém diz que o melhor Ronaldo não foi o de 2002 e sim o de 1998, da Copa da França, assim vem um Ronaldo mais magro e sem o corte de cabelo cascão de 2002 (que inclusive gera a melhor piada do filme).

E a partir daí começa aparecer aquela montanha de jogadores famosos, como Cristiano Ronaldo, a norte-americana Alex Morgan, Virgil Van Dijk, e uma galera das antigas como o holandês Edgar Davids. Até aquela famosa falha dimensional, que transforma tudo em desenho animado. O comercial encerra com aquela bagunça organizada e com os cientistas trazendo craques do futuro, que não são revelados, para o laboratório. O comercial foi novamente dirigido por um duo de publicitários, chamado Tim & Stefan, dupla holandesa que trabalha para a agência e produtora Wieden + Kennedy, de Portland, EUA. Eles já vem trabalhando com a Nike há algum tempo, inclusive na campanha de Serena Williams, como maior atleta da história.

O comercial ainda guarda mais dois bônus muito bem pensados. A primeira é a utilização da música Weird Science (tradução livre: ciência esquisita), composta pelo lendário Danny Elfman e a banda Oigo Boningo, para o clássico oitentista Mulher Nota Mil. E também a inclusão de um personagem do anime Super Onze, Gouenji, mas acaba expulso porque “personagens de ficção não são permitidos”.

E a brincadeira na Nike não termina por aí, já que ela se expande para o Roblox, através do site: footballverse.nike.com. Era isso então e espero que tenha ajudado a contextualizar um pouco sobre a publicidade da Nike nas copas.

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